quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Dona Comunicação (o cuidado que devemos ter na hora de transmitir uma mensagem)

Otávio, o caixa, por certo nunca ligara para problemas de comunicação. Falava e dizia. Pronto. O interlocutor que entendesse. Ignorava, talvez, que cada universo de ouvintes corresponde a um linguajar específico, um repertório. Palavras como “isótopos” e “fissão” só costumam ser inteligíveis entre os iniciados em Física Nuclear. Expressões como “Malagueta diz que vai apagar o macaco” pode ser corriqueira entre os policiais e malandros, mas para outros mortais carece de tradução (Malagueta diz que vai matar o policial).
Otávio não atentava para isso e se julgava, decerto, possuidor de comunicação universal, acessível a qualquer repertório. Fazia e dizia. Quem ouvisse, que escutasse.
Assim, quando Terezinha lhe apresentou o cheque, ele nem imaginou que a cliente talvez não entendesse o idioma bancário.
– Por favor, moça, seu cheque é nominal a Terezinha Gomide, precisa de endosso.
Terezinha escutou, mas não ouviu.
(Pensando alto): – Nominal? Endosso? Endosso tem sabor de açúcar. Não, não é possível, não tem nada a ver.
– Desculpe seu Otávio, não entendi.
Otávio olha Terezinha com ar de estranheza diante da pergunta da cliente. Levanta seus olhos e diz:
– Simples moça. Coloque sua firma aqui no verso.
Ainda sem ouvir, a cliente espichou-lhe o olhar interrogante.
(Pensando alto): – Verso? Firma? Que diabos. Antes “nominal”. Agora “verso”, “endosso” e também “firma”. Ora, eu não sou sócia de nada! Nem poeta!
Terezinha atônita e envergonhada, achou de perguntar de novamente.
– Perdão, seu Otávio, desculpe estar chateando o senhor. É que eu não sou muito boa para entender as coisas. Será que o senhor pode me explicar de novo?
Otávio, já sem nenhuma paciência resmunga alguma coisa. De repente, deu-se o estalo. Pensou no repertório de Terezinha e tratou de adivinhá-lo. Fácil, pensou. Com sorriso de “psicologice”, foi virando o cheque e apontou com jeito de cúmplice:
– Olhe com atenção, coloque aqui seu nome. Assim como você faz no final da carta que manda pro seu namorado.
Terezinha iluminou-se. Decidida, pegou firme na caneta e lascou no verso do cheque: Com todo amor, um grande beijo, Terezinha.

Vamos refletir: o que queremos comunicar? Com quem estamos nos comunicando? Será que há clareza em nossa comunicação? Quantas “Terezinhas” nós conhecemos, não é verdade? É preciso que estejamos atentos às pessoas, ao contexto. Falemos nós com um senador da república ou com o porteiro do nosso prédio. Há repertórios e repertórios. Falar nem sempre é dizer. Pensem nisso!

Um comentário:

  1. Adorei o texto. Como sempre, informações bem interessantes e importantíssimas. Ajuda-nos a aprender mais e mais sobre o tema "comunicação", a qual não é tão simples como muitos acham.

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