quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O Consultor Enquanto Educador Socioconstrutivista

A aprendizagem pode ser considerada como a capacidade de articular os conhecimentos prévios com os novos conhecimentos, resultando na desconstrução e construção de outros conhecimentos, capazes de mobilizar a transformação de conceitos e comportamentos, culminando com uma reflexão interna para a mudança. Nesse sentido, os encaminhamentos didático-metodológicos adequados a essa concepção vão depender da adesão do professor a ela. Chamamos aqui de “professor” o instrutor, o facilitador, e também o consultor (enquanto educador), uma vez o processo de aprendizagem ocorre nos mais variados ambientes.

No que diz respeito às organizações, cabe, de forma especial, ao consultor, em seu papel de educador, transformar este ambiente de aprendizagem em um campo de investigação, uma vez todo aprendizado implica elaboração individual e coletiva, portanto, atividade de quem aprende na interação com o objeto do conhecimento tal como existe, tanto quanto possível, e com o(s) outro(s), porque é nesse processo que ocorrem transformações de percepções, concepções, de crenças e valores.

Numa perspectiva tradicional, o conhecimento é tratado como um conteúdo quase que praticamente de natureza factual e conceitual, que deve ser transmitido a quem aprende. Este aprendiz, por sua vez, é visto como receptor e depositário desse conhecimento. A quem transmite cabe apenas apresentar informações de forma mais acessível, com domínio, dirigindo e avaliando a aprendizagem do(s) seu(s) aprendiz(es). Nesse caso, apenas meras informações são transmitidas. A aprendizagem, se é que ela acontece, se dá por meio da recepção de tais informações, e o seu armazenamento na memória. Esse modelo não privilegia o estímulo do raciocínio, do pensamento ativo, da reflexão e da descoberta por quem “aprende”.

O consultor, enquanto educador, e sempre atento às necessidades, inovações, compartilhamento das informações, e busca por melhorias nos (e dos) ambientes organizacionais, deve considerar o modelo socioconstrutivista, onde o aprendiz é considerado como sujeito mentalmente ativo no processo de aquisição do conhecimento, e os seus próprios conhecimentos prévios devem ser considerados como ponto de partida para novas aprendizagens. Aqui, privilegia-se a reflexão, a discussão, a percepção que ele precisa ter da insuficiência de suas concepções e as necessidades de reestruturá-las cada vez mais próximas do conhecimento desejado. Analisemos, neste instante a figura abaixo.



 Figura 1: Ciclo de aprendizagem na abordagem socioconstrutivista
               
Neste sentido, conforme ilustra a Figura 1, trata-se de uma interação cooperativa entre os aprendizes (os membros das organizações), a partir do seu conhecimento prévio, e o educador (o consultor), com a aplicação do conhecimento que deseja transmitir e, de volta, dos aprendizes, num círculo virtuoso de reforço, devendo sempre o consultor manter-se habilitado, enquanto educador, a exercer o papel de mediador da aprendizagem, numa construção conjunta.

REFERÊNCIAS

CARRETERO, M. Construtivismo e educação. Porto Alegre: Artmed, 1993.

SOUZA, E.P. de. História em quadrinhos: um gênero textual além do ensino de língua portuguesa. Monografia – Especialização. Recife, 2006.

VIGOTSKI, L.S. Pensamento e linguagem. Trad. M. Resende. Lisboa: Antídoto, 1979.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Dica da semana: o uso da palavra através

Institucionalizou-se na língua portuguesa a forma incorreta do uso da palavra “através”. O verdadeiro significado desta palavra é tão somente a passagem de um lado para o outro. Costumeiramente, assumir-se-ia a seguinte frase: “Só através da educação poderemos proporcionar um futuro melhor para nossos filhos”. Na verdade, a frase correta seria: “Só por meio da educação poderemos proporcionar um futuro melhor para nossos filhos”. Dependendo do sentido que se quer dar à frase, se pode substituir a palavra através por mediante, a partir de, por meio de, por intermédio de, com o(a), pelo(a)... Como exemplo de uma frase com o emprego correto da palavra através tem-se: “Com o estádio lotado só consigo enxergar a bola rolando através deste binóculo”. Mas atenção! Não é necessária uma corrida na busca de uma substituição para o pobre “através”. É preciso, apenas, que se tenha o cuidado ao empregá-lo. Não se deve sair por aí dizendo (escrevendo): “_Conheci João Bosco através de Aldir Blanc!”. Vai parecer, no mínimo, que se fez uma radiografia ou, quem sabe, um fenômeno fantasmagórico se deu. Como citei acima, o uso da palavra “institucionalizou-se”, tornou-se comum e não necessita se transformar numa guerra gramatical. O mais importante é buscar sempre a comunicação e fazer com que esta se dê, de fato.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Redação: a velha história de que não se deve usar repetição

Ao dissertarmos, devemos ter alguns cuidados. A repetição é um deles. Mas não exageremos. Não devemos escrever um texto como se fora música de uma nota só, mas os cuidados excessivos podem nos levar a interpretações errôneas. Por exemplo, ao utilizarmos um termo em substituição a outro, para não repeti-lo, poderemos gerar um sentido que não aquele intencionado por nós, o que de fato queríamos dizer, de acordo com contexto. Neste caso, melhor repetir para não errar. Portanto, sigam a dica e tenham cuidado para ficar como nosso amigo do texto abaixo! Até a próxima dica!

As Dez Garrafas de Cachaça:
Eu tinha lá em casa dez garrafas de cachaça, mas minha mulher obrigou-me a jogá-las fora. 
Peguei a primeira garrafa, bebi um copo e joguei o resto na pia. 
Peguei a segunda garrafa, bebi outro copo e joguei o resto na pia. 
Peguei a terceira garrafa, bebi o resto e joguei o copo na pia. 
Peguei a quarta garrafa, bebi na pia e joguei o resto no copo. 
Peguei o quinto copo, joguei a rolha na pia e bebi a garrafa. 
Peguei a sexta pia, bebi a garrafa e joguei o copo no resto. 
A sétima garrafa eu peguei no resto e bebi a pia. 
Peguei no copo, bebi no resto e joguei a pia na oitava garrafa. 
Joguei a nona pia no copo, peguei na garrafa e bebi o resto. 
O décimo copo, eu peguei a garrafa no resto e me joguei na pia.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Para refletir sobre a pertinência de nossas queixas...




A Galinha Reivindicativa[1]

Em certo dia de data incerta, um galo velho e uma galinha nova encontraram-se no fundo do quintal e, entre uma bicada e outra, trocaram impressões sobre como o mundo estava mudando. O galo, porém, fez questão de frisar que sempre vivera bem, tivera muitas galinhas em sua vida sentimental e agora, velho e cansado, esperava calmamente o fim de seus dias.

_ Ainda bem que você está satisfeito _ disse a galinha _ E tem razão de estar, pois é galo. Mas eu, galinha, posso estar satisfeita? Não posso. Todo dia pôr ovos, todo semestre chocar ovos, criar pintos, isso é vida? Mas agora a coisa vai mudar; pode estar certo que vou levar uma vida de galo, livre e feliz. Há já seis meses que não choco e há uma semana que não ponho ovo. A patroa se quiser que arranje outra para esse ofício. Comigo não, violão!

O velho galo ia ponderar filosoficamente que galo é galo e galinha é galinha e que cada ser tem sua função específica na vida, quando a cozinheira, sorrateiramente, passou a mão no pescoço da doidivanas e saiu com ela esperneando, dizendo bem alto: “A patroa tem razão: galinha que não choca nem põe ovo só serve mesmo é pra panela”.

Moral do texto: um trabalho por jornada mantém a faca afastada.


[1] Millôr Fernandes