terça-feira, 17 de abril de 2012

Compondo nossas canções - Parte III



Tocando em Frente
[por Renato Teixeira]

Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte,
Mais feliz, quem sabe,
Eu só levo a certeza
De que muito pouco sei,
Ou nada sei

Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs
É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder seguir
É preciso chuva para florir

Penso que cumprir a vida
Seja simplesmente
Conhecer a marcha
E ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro
Levando a boiada
Eu vou tocando os dias
Pela longa estrada, eu vou
Estrada eu sou

Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs
É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder seguir
É preciso chuva para florir

Todo mundo ama um dia,
Todo mundo chora
Um dia a gente chega
E no outro vai embora
Cada um de nós compõe
A sua própria história
E cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
De ser feliz

Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs
É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder seguir
É preciso chuva para florir

Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais
Cada um de nós compõe
A sua própria história
E cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
De ser feliz

Tocando em Frente
[por mim]

Já não ando devagar
Porque tenho pressa
Busco um sorriso
Porque tenho chorado demais
Um dia já fui forte,
Fui feliz, se sabe,
E sigo com a certeza
De que muito pouco sei,
Quase nada sei

Também tenho minhas manhas
Em cada manhã
Quero o sabor das massas
O vigor das maçãs
Eu quero um amor
Pra me fazer pulsar
Me promover a paz, me ajudar a seguir
E juntos fazermos chuva até florir

Pra seguir a vida, eu devo simplesmente
Acreditar na marcha e ir tocando em frente
Queria ser como um boiadeiro
E ter pra conduzir uma boiada
Mas vou tocando os dias
Em minha longa estrada, eu vou... E só estou...

Também tenho minhas manhas
Em cada manhã
Quero o sabor das massas
O vigor das maçãs
Eu quero um amor
Pra me fazer pulsar
Me promover a paz, me ajudar a seguir
E juntos fazermos chuva até florir

Sonho viver o amor ao amanhecer o dia
Sonho viver o amor a toda hora
Sonho que alguém chega, mas logo vai embora
Vejo-me compondo uma nova história
E digo pra mim
Que sou capaz... que serei feliz...

Também tenho minhas manhas
Em cada manhã
Quero o sabor das massas
O vigor das maçãs
Eu quero um amor
Pra me fazer pulsar
Me promover a paz, me ajudar a seguir
E juntos fazermos chuva até florir

Já não ando devagar
Porque tenho pressa
Busco um sorriso
Porque tenho chorado demais
Vejo-me compondo uma nova história
E digo pra mim
Que sou capaz... que serei feliz...

quarta-feira, 28 de março de 2012

Gato escondido com a língua às vistas...


A Internet tem uma linguagem própria, de assustar os linguistas e matar os gramáticos do coração. Foi algo que se institucionalizou, adquiriu o que poderíamos chamar de "licença poética da internet". É claro que algumas coisas são inadmissíveis, visto que muitos que escrevem são detentores de conhecimento, já galgaram muitos degraus na vida acadêmica e tudo mais. Deles se espera que, ao menos, produzam sentido naquilo que escrevem, naquilo que falam. A televisão também tem uma linguagem própria, embora aqui deva haver um esforço maior para que o falante prime pela linguagem “culta” ou, pelo menos, mais polida.

Tenho observado nas redes sociais críticas ferrenhas ao modo de escrever e de falar das pessoas. Até aí, tudo bem. Além do direito de liberdade de expressão, devemos olhar as críticas de modo apreciativo, como forma de aprimoramento. Entretanto, o que mais choca é que a preocupação em criticar o outro impede o olhar para si próprio. Os "críticos" (ou apontadores do erro alheio) tecem trechos enormes, bombardeando “as falas”, “as escritas” alheias, porém não se dão conta da quantidade de erros que eles mesmos estão cometendo. E surge comentário do tipo: "[...] Fulano de tal foi na televisão e disse tal coisa errada". Não, meu povo: "Fulano de tal não "foi na" televisão; "Fulano de tal foi à televisão".

Muitas vezes o falante, para ser entendido, precisa se aproximar do contexto sociocultural no qual se insere a pessoa com quem ele se comunica e esta não é uma tarefa tão simples. Em outros casos, o comunicador necessita expressar uma palavra em outra língua. Ele o faz tentando aproximar-se o máximo possível de sua pronúncia... Mas não é sua língua nativa. Por que simplesmente criticá-lo?

Há época da faculdade, lembro-me que em uma das aulas de Literatura Brasileira, Ariano Suassuna comentou sobre o hábito que temos em pronunciar um “i” não existente em determinadas palavras, tais como: rapais (rapaz), fugais (fugaz), etc. Entretanto, ele lembrou-se de um membro da Academia que se manifestava tão intensamente contra este tipo de pronúncia, que costumava retirar o “i” até mesmo daquelas palavras onde este é presença obrigatória, tendo pronunciado em vários momentos coisas do tipo: “instituições federás, municipás e estaduás”.

Meu povo, somos uma gente de várias línguas em uma só. Macaxeira é o mesmo que Aipim, Moringa e Quartinha a mesma coisa são. Pode-se andar apressado, avexado, ligeiro, não importa. Criticar é preciso, é importante, é salutar, suscita melhorias. Mas, antes, tenhamos o cuidado de revisitar nossa própria fala e nossa escrita. Eis a dica!

segunda-feira, 26 de março de 2012

Compondo nossas canções - parte II


Só Hoje
[por, Jota Quest]

Hoje eu preciso te encontrar de qualquer jeito
Nem que seja só pra te levar pra casa
Depois de um dia normal...
Olhar teus olhos de promessas fáceis
E te beijar a boca de um jeito que te faça rir
Que te faça rir

Hoje eu preciso te abraçar...
Sentir teu cheiro de roupa limpa...
Pra esquecer os meus anseios e dormir em paz!

Hoje eu preciso ouvir qualquer palavra tua!
Qualquer frase exagerada que me faça sentir alegria... Em estar vivo.
Hoje eu preciso tomar um café, ouvindo você suspirar...
Me dizendo que eu sou o causador da tua insônia...
Que eu faço tudo errado sempre, sempre.

Hoje preciso de você
Com qualquer humor, com qualquer sorriso
Hoje só tua presença
Vai me deixar feliz
Só hoje



Só Hoje
[por, mim]


Hoje preciso encontrar alguém de qualquer jeito
Nem que seja só pra me levar pra casa
Depois de um dia normal...
Olhar nos meus olhos sem promessas fáceis
E me beijar a boca de um jeito que me faça rir
Que me faça rir

Hoje eu preciso que me abracem
Que sintam meu cheiro, minha alma limpa
Pra esquecer as minhas dores e dormir em paz

Hoje eu preciso ouvir uma palavra de alguém
Uma frase, sem exageros, mas que faça sentir alegria em estar viva
Hoje preciso que me façam um café, que suspirem ao meu ouvido
Dizendo-me palavras que me tirem a insônia
E que tudo que fiz foi certo, sempre...

Hoje preciso de alguém
Que traga seu humor, que me arranque um sorriso
Hoje quero esta presença pra me deixar feliz
A partir de hoje...

segunda-feira, 19 de março de 2012

Compondo nossas canções


Vamos brincar com as letras das músicas? A ideia é pegar a música que mais nos toca no momento e criar outra, a partir dos nossos sentimentos. Para começar, reescrevo Bilhete - de Ivan Lins - de acordo com o que agora sinto.


Bilhete [por Ivan Lins, é assim]

Quebrei o teu prato, tranquei o meu quarto
Bebi teu licor
Arrumei a sala, já fiz tua mala
Pus no corredor
Eu limpei minha vida, te tirei do meu corpo
Te tirei das entranhas
Fiz um tipo de aborto
E por fim nosso caso acabou, está morto
Jogue a cópia da chave por debaixo da porta
Que é pra não ter motivo
De pensar numa volta
Fique junto dos teus
Boa sorte, adeus

Bilhete [por mim, seria desta forma]

Guardei o teu prato, abri o meu quarto
Comprei teu licor
Continuo na sala, volta com a mala, sai do corredor
És tu a minha vida, estás em meu corpo
Corres em minhas entranhas
Jamais faria um aborto
Não é o fim do nosso caso, nosso amor não está morto
Guarda a cópia da chave, bate logo esta porta
Dá-me todos os motivos
Pra celebrar tua volta
Esquece qualquer adeus
Eu sou tua, tu és meu

Participem, comentem, explorem sua criatividade, deixem-se invadir pelos seus sentimentos! 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A arte pernambucana de se comunicar com os pés



Em 2008, a Estação Primeira de Mangueira cantou: “mandou me chamar, eu vou, pra Recife festejar. Alegria no olhar eu vejo: é frevo, é frevo, é frevo”. E a terra do samba freveu com o nosso passo na avenida.

Frevar, frever, frevura, ferver: a pura efervescência do pernambucano quando ouve o seu ritmo maior. É assim que ele se comunica e se sabe entendido. Nos dias de folia, é com essa linguagem simples que o nosso povo fala para o mundo e ferve, promovendo o rebuliço, a reunião da massa, no vai e vem do movimento das sombrinhas pelas ruas e ladeiras do Estado.

É um tipo de comunicação que não exige fala, não evoca a norma culta, não suplica pela gramática. Nem exige coerência. Não pede coesão. Coordenação, talvez, para os mais exibidos... De um modo geral, fala-se com os pés, saltitantes, que parecem se desvencilhar da fervura que sai do chão. O ritmo, nascido da união entre músicas e danças, recebeu o nome de Frevo após sua primeira publicação em um jornal vespertino, em 09 de fevereiro de 1907. O jornalista usou de sua habilidade para escrever o que os pés da multidão já comunicavam pelas ruas da cidade. Aprimorando o seu conversar com os pés, o pernambucano, então, evoluiu: para vibrar, rodopiar, saltar em meio à multidão, criou o frevo de rua; para aplacar a efervescência dos seus passos, criou o frevo-canção; e para falar ao coração, criou o frevo de bloco.

Se os cantadores de emboladas nos falam com o improviso dos seus versos, o passista (bailarino) ginga, usa uns passos miúdos, outros complicados, uma dobradiça aqui, uma capoeira ali, uma mola, uma tesoura acolá... E assim, convida o povo a conversar, dançando, pulando, gingando, frevando,frevendo, levando a alma a compreender exatamente o corpo deseja expressar.

Parabéns ao frevo, aniversariante deste dia 09! Parabéns ao povo pernambucano e seu ritmo maior!

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A peleja dos mestres cuja linguagem fazia frever os corações

Atendendo a pedidos, republico a postagem de 09 de fevereiro de 2011, dia do Frevo.



Se dos pés do povo pernambucano surgiam conversas ritmadas, diálogos acrobáticos, prosas saltitantes, da inspiração dos nossos mestres compositores saíram melodias que eternizaram essa linguagem. E a briga foi grande. Cada um que tentasse se comunicar melhor, com alma, com o coração. Cada um que tentasse traduzir melhor a emoção frevida de seu povo.

Getúlio Cavalcanti saltou de lá e perguntou: “Quem conheceu Sebastião, de paletó na mão e aquele seu chapéu”? Luiz Bandeira, não aguentou a distância e cheio de saudade gritou: “Voltei, Recife! Foi a saudade que me trouxe pelo braço. Quero ver novamente Vassoura na rua abafando, tomar umas e outras e cair no passo”? Clídio Nigro e Clóvis Vieira imaginaram que Olinda não poderia ficar de fora. Então soltaram o verbo: “...Olinda, quero cantar, a ti esta canção: teus coqueirais, o teu sol, o teu mar, faz vibrar meu coração de amor, a sonhar, minha Olinda sem igual, salve o teu carnaval!” Marambá e Aníbal Portela preferiram render homenagem às duas cidades fazendo ecoar: “Evoé! Evoé! O carnaval de Pernambuco é gozo, é o suco, graças ao frevo e à Federação”. Os Irmãos Valença não acreditaram, acharam que a alegria daquele povo era sonho e começaram a cantar: ”Eu tive um sonho que durou três dias, foi um sonho lindo, sonho encantador...


Nelson Ferreira não se acostumava com a modernidade, com a ideia de acabar com o corso, com o romantismo dos carnavais de clube, queria o passado de volta. Saiu com essa: “Felinto, Pedro Salgado, Guilherme, Fenelon! Cadê teus blocos famosos? ‘Blocos das Flores’, ‘Andaluzas’, ‘Pirilampos’, ‘Apôis Fum’,  dos carnavais saudosos? Edgar Moraes também relembrava os antigos carnavais: “...Pavão Dourado, Camelo de Ouro e Dedé, os queridos Batutas da Boa Vista, e os Turunas de São José. Príncipes dos Príncipes brilhou, Lira da Noite também ficou, e o Bloco da Saudade assim recorda tudo que passou...


Capiba, então, não deixou por menos. Mostrou que pernambucano é cabra da peste, que não veio neste mundo a passeio. Mandou, na lata, mostrando nossa força e tradição: “... e se aqui estamos cantando essa canção, viemos defender a nossa tradição e dizer bem alto que a injustiça dói: nós somos madeira de lei que o cupim não rói! Luiz Bandeira tentou amenizar a situação, lembrando que tudo tem um dia pra acabar: “Oh! quarta-feira ingrata, chega tão depressa só pra contrariar...”? Mas o mestre João Santiago, que não estava nem aí, queria mais. Assim, largou o verso e deixou o frevo rolar: “Eu quero entrar na folia, meu bem! Você sabe lá o que é isso... Deixa o frevo rolar, eu só quero saber se você vai brincar. Ai, meu bem, sem você não ha carnaval. Vamos cair no passo e a vida gozar”. 


Foi assim, é assim, assim sempre será. Esta é a nossa mais bela e prazerosa forma de comunicação. Alguns mestres se foram, outros vivem entre nós, novos surgem, e todos continuam embalando nossa memória, reescrevendo a nossa história, fazendo pulsar os corações, frever os nossos pés, criando novas formas de expressão, mantendo viva a linguagem do nosso povo, que fala com o corpo, com a alma e o coração.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Patativa do Assaré x A Polêmica com o Livro Didático do MEC

Vaca Estrela e Boi Fubá
(Patativa do Assaré)



Seu dotô, me licença
pra minha história contá
Hoje eu na terra estranha,
é bem triste o meu pená
Eu já fui muito feliz
vivendo no meu lugá
Eu tinha cavalo bom
e gostava de campeá
E todo dia eu aboiava
na porteira do currá
Eeeeiaaaa, êeee Vaca Estrela, ôoooo Boi Fubá

Eu sou fio do Nordeste,
não nego meu naturá
Mas uma seca medonha
me tangeu de lá prá cá
Lá eu tinha meu gadinho, não é bom nem alembrá
Minha linda Vaca Estrela
e o meu belo Boi Fubá
quando era de tardezinha
Eu começava a aboiá
Eeeeiaaaa, êeee Vaca Estrela, ôooo Boi Fubá

Aquela seca medonha
fez tudo se atrapaiá
Não nasceu capim no campo para o gado sustentá
O sertão esturricô,
fez os açude secá
Morreu minha Vaca Estrela,
se acabou meu Boi Fubá
Perdi tudo quanto eu tinha, nunca mais pude aboiá
Eeeeiaaaa, êeee Vaca Estrela, ôoooo Boi Fubá

Hoje nas terra do sul
Longe do torrão natá
Quando eu vejo em minha frente
Uma boiada passá
As água corre dos oios
Começo logo a chorá
Lembro minha vaca Estrela
E o meu lindo boi Fubá
Com sodade do nordeste
Dá vontade de aboiá
Eeeeiaaaa, êeee Vaca Estrela, ôooo Boi Fubá




Dentre os poemas mais conhecidos de Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré, está Vaca e Estrela e Boi Fubá, eternizado por Luiz Gonzaga e também por Fagner. Patativa, nascido em Assaré, Ceará, foi compositor, improvisador e poeta. Produziu vasta literatura de cordel. Entretanto não se considerava cordelista. Teve a vida marcada pelo sofrimento e debilidades que não o impediram que se tornasse um premiado artista. Sua obra lhe rendeu vários títulos e prêmios.


Em polêmica recente sobre o livro didático lançado pelo MEC, muitos criticaram os trechos publicados (ex: “Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado”), alegando que tal fato levaria ao ensino incorreto da língua ou, muito pior, incentivaria o emprego incorreto da língua portuguesa. A Linguística é muito maior que uma mera discussão não fundamentada. O papel do educador é exatamente mostrar aos alunos que tais formas linguísticas existem, são válidas e legítimas enquanto linguagem informal, devem ser respeitadas em relação ao contexto sociocultural de quem as profere ou escreve, mas que não fazem parte da norma culta, portanto, eles, que se encontram em pleno processo de aprendizagem, devem tomar posse da forma correta de seu uso.

Com uma linguagem simples, Patativa do Assaré foi um dos maiores representantes da cultura popular nordestina, levantando a bandeira do povo marginalizado e oprimido do sertão. Sempre de forma poética e sem “arrodeios” nem “floreios”. A questão que se faz presente aqui não se refere aos erros gramaticais, às formas corretas de uso da língua, mas à mensagem que o autor quis transmitir, tocando fundo o coração do povo nordestino, que muitas vezes abandonava o seu torrão natá em busca de oportunidades e fontes de sobrevivência. O corpo migrava, os sonhos se dividiam, mas o pensá, a sodade, o desejo de vortá sequer cruzavam a estrada.


Fechem os olhos por um instante! Deixem-se embalar pela doçura da melodia e riqueza linguística do poema! Agora, digam-me: resta alguma dúvida sobre que linguagem fala o poeta? Alguma polêmica se faz necessária?