A Internet tem uma linguagem
própria, de assustar os linguistas e matar os gramáticos do coração. Foi algo
que se institucionalizou, adquiriu o que poderíamos chamar de "licença
poética da internet". É claro que algumas coisas são inadmissíveis, visto
que muitos que escrevem são detentores de conhecimento, já galgaram muitos
degraus na vida acadêmica e tudo mais. Deles se espera que, ao menos, produzam
sentido naquilo que escrevem, naquilo que falam. A televisão também tem uma linguagem própria,
embora aqui deva haver um esforço maior para que o falante prime pela linguagem “culta” ou, pelo
menos, mais polida.
Tenho observado nas redes sociais críticas
ferrenhas ao modo de escrever e de falar das pessoas. Até aí, tudo bem. Além do
direito de liberdade de expressão, devemos olhar as críticas de modo
apreciativo, como forma de aprimoramento. Entretanto, o que mais choca é que a preocupação
em criticar o outro impede o olhar para si próprio. Os "críticos" (ou apontadores do erro alheio) tecem trechos enormes,
bombardeando “as falas”, “as escritas” alheias, porém não se dão conta da
quantidade de erros que eles mesmos estão cometendo. E surge comentário do tipo: "[...] Fulano de tal foi na televisão e disse tal coisa errada". Não, meu povo: "Fulano de tal não "foi na" televisão; "Fulano de tal foi à televisão".
Muitas vezes o falante, para ser
entendido, precisa se aproximar do contexto sociocultural no qual se insere a pessoa com quem ele se
comunica e esta não é uma tarefa tão simples. Em outros casos, o comunicador
necessita expressar uma palavra em outra língua. Ele o faz tentando
aproximar-se o máximo possível de sua pronúncia... Mas não é sua língua nativa. Por que simplesmente criticá-lo?
Há época da faculdade, lembro-me que em uma das
aulas de Literatura Brasileira, Ariano Suassuna comentou sobre o hábito que
temos em pronunciar um “i” não existente em determinadas palavras, tais como: rapais
(rapaz), fugais (fugaz), etc. Entretanto, ele
lembrou-se de um membro da Academia que se manifestava tão intensamente contra
este tipo de pronúncia, que costumava retirar o “i” até mesmo daquelas palavras onde este é presença obrigatória, tendo pronunciado em vários momentos coisas do tipo: “instituições federás, municipás e estaduás”.
Meu povo, somos uma gente de várias
línguas em uma só. Macaxeira é o mesmo que Aipim, Moringa e Quartinha a mesma coisa são. Pode-se andar apressado, avexado, ligeiro, não importa. Criticar é preciso, é importante, é salutar, suscita
melhorias. Mas, antes, tenhamos o cuidado de revisitar nossa própria fala e
nossa escrita. Eis a dica!
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