segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Tema da semana: Coerência

“Subi a porta e fechei a escada.
Tirei minhas orações e recitei meus sapatos.
Desliguei a cama e deitei-me na luz
Tudo porque ele me deu um beijo de boa noite...”
(Autoria anônima)

Há sentido neste poema? Há coerência? Entende-se o que se quer dizer? O que está por trás da mensagem? Há alguma mensagem?

Embora o texto pareça querer não dizer nada, além da licença poética, à qual o autor tem direito, há, de fato, um sentido revelado por quem o escreve. Mais ainda: se pudermos nos transportar a determinados momentos vividos por nós mesmos, certamente que o compreenderemos em seu sentido amplo. Até, quem sabe, ainda com mais “falta de sentido”, dependendo da nossa imaginação. Na língua, seja falada ou escrita, nem tudo se apresenta de forma explícita, transparente. É a interação com o leitor que vai revelar os sentidos, apontar as coerências. E para entender? Basta se deixar envolver pelas palavras, imaginar-se no texto e apoderar-se dos sentidos. Pensem nisso!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Dona Comunicação (o cuidado que devemos ter na hora de transmitir uma mensagem)

Otávio, o caixa, por certo nunca ligara para problemas de comunicação. Falava e dizia. Pronto. O interlocutor que entendesse. Ignorava, talvez, que cada universo de ouvintes corresponde a um linguajar específico, um repertório. Palavras como “isótopos” e “fissão” só costumam ser inteligíveis entre os iniciados em Física Nuclear. Expressões como “Malagueta diz que vai apagar o macaco” pode ser corriqueira entre os policiais e malandros, mas para outros mortais carece de tradução (Malagueta diz que vai matar o policial).
Otávio não atentava para isso e se julgava, decerto, possuidor de comunicação universal, acessível a qualquer repertório. Fazia e dizia. Quem ouvisse, que escutasse.
Assim, quando Terezinha lhe apresentou o cheque, ele nem imaginou que a cliente talvez não entendesse o idioma bancário.
– Por favor, moça, seu cheque é nominal a Terezinha Gomide, precisa de endosso.
Terezinha escutou, mas não ouviu.
(Pensando alto): – Nominal? Endosso? Endosso tem sabor de açúcar. Não, não é possível, não tem nada a ver.
– Desculpe seu Otávio, não entendi.
Otávio olha Terezinha com ar de estranheza diante da pergunta da cliente. Levanta seus olhos e diz:
– Simples moça. Coloque sua firma aqui no verso.
Ainda sem ouvir, a cliente espichou-lhe o olhar interrogante.
(Pensando alto): – Verso? Firma? Que diabos. Antes “nominal”. Agora “verso”, “endosso” e também “firma”. Ora, eu não sou sócia de nada! Nem poeta!
Terezinha atônita e envergonhada, achou de perguntar de novamente.
– Perdão, seu Otávio, desculpe estar chateando o senhor. É que eu não sou muito boa para entender as coisas. Será que o senhor pode me explicar de novo?
Otávio, já sem nenhuma paciência resmunga alguma coisa. De repente, deu-se o estalo. Pensou no repertório de Terezinha e tratou de adivinhá-lo. Fácil, pensou. Com sorriso de “psicologice”, foi virando o cheque e apontou com jeito de cúmplice:
– Olhe com atenção, coloque aqui seu nome. Assim como você faz no final da carta que manda pro seu namorado.
Terezinha iluminou-se. Decidida, pegou firme na caneta e lascou no verso do cheque: Com todo amor, um grande beijo, Terezinha.

Vamos refletir: o que queremos comunicar? Com quem estamos nos comunicando? Será que há clareza em nossa comunicação? Quantas “Terezinhas” nós conhecemos, não é verdade? É preciso que estejamos atentos às pessoas, ao contexto. Falemos nós com um senador da república ou com o porteiro do nosso prédio. Há repertórios e repertórios. Falar nem sempre é dizer. Pensem nisso!